segunda-feira, 17 de junho de 2013

Balanço Prévio das Manifestações

Um espectro ronda o Brasil: e não é o espectro do comunismo. Dessa forma, precisamos, obrigatoriamente fazer antítese às palavras de Marx e Engels no manifesto. O espectro que nos ronda nessa onda de manifestações é outro: não é o espectro que desejamos, não é o espectro pelo qual lutamos, é um espectro que não sabemos bem o que é, só sabemos que não nos agrada.

"Mas, vocês comunistas deveriam estar apoiando incondicionalmente essa manifestação"; nos diria qualquer um por aí. Será mesmo?

Da distância que nos é possível acompanhar, pelo fato de residirmos bastante distantes dos focos da manifestação, algo nos tem chamado particular atenção. A mídia, que normalmente é radicalmente contrária ao movimento, se posicionando a favor. Será por medo? Será por que valores morais de ordem mais profunda se instalaram nessas instituições? Será cinismo? Será oportunismo? Será tentativa de incutir valores que são estranhos aos manifestantes? A resposta para as primeiras dessas questões tende a ser negativa; quanto mais nos aproximamos das últimas questões, elas nos parecem mais afirmativas. Vamos aos fatos.

Quando, caros leitores, vocês presenciaram alguma grande empresa das comunicações fazer elogios a manifestações? Geralmente esses grupos aproveitam-se de fatos isolados para deslegitimarem todo o movimento. Isso é recorrente, citar exemplos seria desnecessário. No passado que nos é próximo, é possível lembrar do caso recente quanto à questão das terras indígenas no Mato Grosso, nas ocupações recentes de fazendas do MST. A mídia, invariavelmente, isola um fato para deslegitimar o movimento. Como explicar que o contrário esteja ocorrendo?

Causou-me surpresa e profunda desconfiança o fato de que a Globo News, através de seus jornalistas que cobriram todo o dia de manifestações, que a Band, na figura do Sr. Datena e a Record, na figura de Marcelo Rezende, tenham todos falado bem das manifestações, dizendo que seriam legítimas, desde que não houvesse violência. Causou-me entretanto, maior surpresa ainda, nos momentos mais tensos da manifestação no Rio de Janeiro, especialmente nos momentos em que houve incêndio na escadaria da Alerj, e no momento em que um carro foi incendiado nos seus arredores. O discurso da Globo News, rigorosamente, era: "o que estamos vendo, esses incêndios, são casos isolados, que não refletem a maioria do movimento e nem tiram a sua legitimidade, afinal isso é normal em grandes multidões, sempre tem uns grupos que se descontrolam, mas prevalece a legitimidade". A Globo News afirmou isso, camaradas! De outro lado, tenho visto coisas, que igualmente me causam espanto. Conhecidos que sempre se caracterizaram pela exposição das posições mais reacionárias, estão levantando bandeiras em favor da manifestação. Na internet, os mesmos estão postando imagens e mensagens favoráveis ao movimento.

Ao lado de toda essa euforia, entretanto, algumas das bandeiras tipicamente reacionárias, se não estão abertas sobre uma multidão, estão enroladas em seus mastros, a ponto que, com um pouco de atenção, é possível ler seus dobrados caracteres impressos ou pintados. A primeira ideia que me chamou atenção nesse sentido, foi o fato de que os R$0,20 centavos, seriam só a gota d'água. Investigando o restante do conteúdo desse copo por transbordar, vemos questões como, "segurança, corrupção, fisiologismo, a própria política etc.". Como é que se resolvem questões desse naipe? De quem são tipicamente essas demandas?

Para se fazer justiça, pelo que temos acompanhado, a vanguarda (se é que ainda continua na vanguarda) que iniciou esse movimento, o MPL, insistiu durante o dia que a demanda ainda era apenas pelo transporte público, enquanto que os jornalistas e as redes sociais relatavam que o conteúdo restante do copo já cheio era o mais fundamental. Portanto, as demais demandas que estão sob essa gota, vê-se, que são bandeiras tipicamente conservadoras e até mesmo reacionárias.

As marchas anti-corrupção no país são patrocinados por uma classe média moralista que jamais se perguntou a seguinte questão: "se a corrupção finda, o que de substancial mudaria nessa sociedade?". A resposta que podemos oferecer é que nada substancial se modificaria. A corrupção é condenável, sem dúvidas, porém, ela é apenas a ponta do iceberg, não toca em questões fundamentais como a propriedade dos meios de produção no Brasil, a situação das classes trabalhadoras, os direitos trabalhistas, a jornada de trabalho, os ganhos do capital financeiro, a promoção de superávits primários pelo governo para pagar essa dívida externa que jamais foi auditada. As outras bandeiras que citamos, são igualmente típicas da classe média reacionária e conservadora.

O MPL ao que nos parece não entrou nessa onda de que essa manifestação é por "tudo". A mídia e as publicações das redes sociais é que têm forçado nesse sentido. Coincidentemente foi a partir dessa ampliação do escopo da manifestação é que seus participantes de multiplicaram. As demandas extrapolaram os interesses dos trabalhadores e das classes mais pobres (que são os usuários típicos do transporte público no Brasil), e incorporaram a todos. Inclusive os setores conservadores. Dentre as demandas dos conservadores, que foram incutidas pela mídia e pelas redes sociias, uma em particular nos chamou a atenção. Em geral as pessoas são avessas à presença dos partidos políticos nas manifestações, assim como seus símbolos como camisetas e bandeiras. O apoliticismo pregado diariamente na mídia, onde afirma-se que tudo que tem a ver com política é sujeira ou é imoral, tem causado profunda cegueira ao movimento. Apenas os partidos políticos são capazes de sistematizar e universalizar demandas de modo que elas não se percam e se sistematizem, e com isso mesmo se perpetuem. Uma recente onda de movimentos recentes que pudemos presenciar sofreu na pele a falta de um partido e por isso se extinguiu rapidamente: estamos falando aqui do Occupy ocorrido em Nova York. Nesse movimento em que as pessoas iam protestar em Wall Street muita esperança foi criada, filósofos discursavam e eram ouvidos pela multidão, inclusive marxistas. Entretanto, a falta de um partido que aproveitasse aquelas experiências de mobilização, as sistematizassem e as somasse em um arcabouço de mobilizações, fez com que o Occupy não só se extinguisse rapidamente, como também, com que ele não tenha deixado pouco ou quase nenhum fruto para futuras manifestações. Um partido político é capaz de perpetuar experiências, centralizar demandas. Critica-se os partidos sem sequer conhecê-los, sem sequer saber como funcionam e sem sequer saber o que representam. Quanto menos partidários formos melhor é para o status quo. Enquanto os trabalhadores e classes baixas em geral pregam o apoliticismo, os grandes empresários e financistas estão nos partidos conservadores, estão nos sindicatos patronais e nos institutos que divulgam suas ideologias. Por que nós devemos renunciar às armas que eles usam?

Não faz, agora, algum sentido que as televisões estejam apoiando esse movimento? Além desses casos citados, tenho presenciado, ainda de forma menos substantiva, citações como "Impeachment da Presidente Dilma", fim das "Bolsas Esmolas". Essas bandeiras são tipicamente conservadoras. Devemos fazer críticas à Dilma, mas pela esquerda, e não pela direita. Querer desmantelar as poucas conquistas de programas sociais que conquistamos nos últimos anos, só pode ser um movimento pela direita. Então, faz algum sentido que Datena e Arnaldo Jabour tenham virado de lado.

Por outro lado, nos causa estranheza o fascínio que essa manifestação tem causado à própria militância da esquerda. É claro que a esquerda deve ocupar o máximo de espaço possível e comparecer sim, entretanto, não deve deslumbrar-se com o que está acontecendo. Entretanto é preciso que se diga, sob pena de sermos julgados negativamente: nem toda manifestação é progressista. Talvez no Brasil tenhamos nos acostumado ao fato de que as grandes manifestações tenham sido progressistas, como as manifestações do MST, as manifestações sindicais nos anos 80 e as manifestações contra a ditadura cívico-militar.  Porém, nem toda manifestação é assim. Talvez nos seja distante, mas é preciso lembrar que o Integralismo de Plínio Salgado levava centenas ou milhares de pessoas às ruas de São Paulo. A direita também se mobiliza e sai às ruas. Na nossa vizinha Venezuela esse tipo de movimentação, conforme testemunha o documentário "A revolução não será televisionada", mostrou como uma movimentação de direita aliada a distorção dos meios de comunicação, pode fazer com que até pessoas que são moralmente contra os ideais de direita, ajam em favor deles. O resultado disso: o golpe contra Chavez, que só foi revertido posteriormente.

É preciso que tenhamos atenção quanto a isso. É evidente que a grande maioria das pessoas que estão participando das manifestações brasileiras não são de direita. Entretanto, em política muitas vezes defendemos o que não é nosso. O grande risco é que essas pessoas saiam às ruas por ideiais conservadores. Repito: grandes meios de comunicação apoiando manifestações não são um fato muito comum. Há um risco de que se incutam ideias no movimento que lhe são externas.

É preciso pesar tudo isso para se avaliar se o movimento é progressista ou não. Provavelmente teremos saldos positivos para alguns partidos ou setores da esquerda, mas temo que os resultados para a direita sejam mais significativos. O julgamento fica por conta do leitor, mas não só por ele, principalmente, fica por conta da História.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Obama sanciona novo teto da dívida dos EUA






A Casa Branca anunciou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sancionou na tarde desta terça-feira o novo teto da dívida do país aprovado na Câmara dos Representantes e no Senado, que deve evitar a moratória parcial. O acordo assinado por Obama prevê um corte de gastos na ordem de US$ 2,4 trilhões (R$ 3,7 trilhões) e uma elevação no teto da dívida na mesma proporção.

A Casa Branca tem um teto legal para a tomada de empréstimos para o pagamento das contas públicas, como o salário dos militares, os juros de dívidas prévias e o sistema de saúde. O limite anterior era de US$ 14,3 trilhões (R$ 22,3 trilhões). O acordo assinado pelo presidente permitirá que Tesouro empreste mais dinheiro para manter os compromissos, em troca de cortes de gastos governamentais de US$ 1 trilhão - valor que deve chegar a US$ 2,4 trilhões em dez anos.

O Senado americano aprovou o acordo nesta terça-feira, com 74 favoráveis e outros 26 votos contrários. O projeto de lei precisava de ao menos 60 votos favoráveis para ser aprovado. O acordo já havia sido aprovado na noite desta segunda-feira na Câmara dos Representantes - equivalente à Câmara dos Deputados - e atualmente controlada por membros do Partido Republicano (que faz oposição ao presidente Obama), com 269 votos favoráveis e 161 contrários.

Fonte: http://br.reuters.com/

Entenda o possível calote americano

Os quatro maiores credores de títulos públicos dos EUA são (em dólares): China – 1,152 trilhões; Japão – 906 bilhões; Reino Unido - 333 bilhões; Países exportadores de petróleo – 221 bilhões; Brasil – 207 bilhões; esses dados são de Abril deste ano. Isso significa que o Banco Central Brasileiro detém títulos do governo americano no valor de 207 bilhões. Se o governo americano não paga juros, os seus títulos são desvalorizados e todos esses países entram em prejuízo. Os títulos americanos são considerados de risco 0, por o país sempre ter honrado os seus credores. Por isso todos os governos do mundo aplicam preferencialmente em títulos do governo americano. O problema é global como se pode perceber.

Hoje os EUA possuem uma dívida econômica expressiva, pra ficar mais claro, o PIB americano arrecadou até agora 14,6 trilhões, e sua divida já atingiu a marca de 14,3 trilhões, e eles pretendiam aumenta-la para 16 trilhões, ou seja, a divida será maior que o próprio PIB. O governo é obrigado por lei a pagar todos os seus credores, mas não são só os credores a quem o governo deve, são muito mais pessoas (aposentados e pensionistas) e nações envolvidas, logo, se não sair esses acordos político o governo terá que optar por quem não irá receber.

Essa situação de certa forma envolve a credibilidade americana, logo a questão virou política, assim os americanos têm buscado estabelecer o tamanho do estrago para que se possa fazer uma possível renegociação da divida. Assim para que a divida possa ser aumentada, são necessários acordos políticos.

Por a situação ser tão dramática é bem provável que saiam todos esses acordos políticos. Se esse teto de endividamento do governo não for elevado, problemas internos dos EUA também serão expostos, os juros subirão, o patrimônio das famílias ficará comprometido e o país entrará numa dupla recessão.

O governo chinês tem se pronunciado bastante nas últimas semanas, tem-se exigido principalmente a garantia do direito dos investidores. Talvez essas declarações ganhem mais força, visto que o governo americano não tem visado abandonar a política de desvalorização do dólar.

Sobre o questionamento de um eventual Calote americano, os republicanos não acreditam que o Tesouro permitiria esse acontecimento. "Seria algo inédito na história americana", concluiu o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner. "Uma moratória causaria danos catastróficos à economia da nação, reduzindo o crescimento de maneira significativa e aumentando o desemprego", completou.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PH E SECRETA...

O colunista Reinaldo Loyo é quem nos conta que Sarney é dono do Estado, da televisão, do jornal e do colunista social: Pergentino Holanda, uma das coisas mais loucas que já vi na vida. O PH.

Pergentino Holanda é aquela figurinha carimbada. Desfila pelas ruas de São Luís ao volante de uma reluzente Mercedes-Benz último tipo, vindo de uma cinematográfica propriedade nos arredores da ilha. PH faz e desfaz na society maranhense. Aos domingos, em “O Estado do Maranhão”, assina um caderno, onde seu monograma é contornado por uma estrela dourada cintilante. PH, saibam todos, depois de Roseana, é a maior estrela do Maranhão.

Seus aniversários e festas são bancados por amigos generosos. Um banca a bebida, outro, o bufê. Se abrirem a caixa-preta PH não terá como explicar a riqueza que tem.


Secreta, o rebolativo.

Seu nome é Amaury de Jesus Machado, mas pode chamá-lo de Secreta que ele gosta – forma abreviada de secretário. Aos 51 anos, funcionário do Senado, Secreta mora na cidade satélite do Guará, onde dispõe de um plantel de garotões musculosos e amestrados.

A rebolativa figura anda cheia de jóias de ouro, colares e pulseiras. Goza de absoluta confiança de Roseana e de toda a família Sarney. Secreta recebe do Senado como “assessor de gabinete”, mas trabalha na casa de Roseana.

“O Congresso abriga mais um exemplo ilustrativo do uso de dinheiro público para bancar despesas privadas da família do presidente do Senado, José Sarney. O Mordomo da casa de sua filha, Roseana, é um servidor pago pelo Senado. Deveria trabalhar no congresso, mas de 2003 para cá, dá expediente a 7km dali, na residência que Roseana mantém no Lago Sul de Brasília.” O Estado de São Paulo, 20 de junho de 2009.

Secreta é uma espécie de faz-tudo, quase um agregado da família, encarregado de serviços de copa e cozinha, organizador de recepções.

Grande Secreta. Chegou a filiar-se ao PFL quando a “madrinha” estava nesse partido, herdeiro da Arena da ditadura. Trabalhou até no Palácio da Alvorada quando Sarney era presidente (1985-1990). Na época promoveu uma festinha com dois garotos na mansão do Calhau (de José Sarney), em São Luís, que ele tinha ido arrumar para uma ida do então presidente. Os rapazes aproveitaram para amarrar Secreta e roubar a mansão. Coisas da vida.

Colegas de função acreditam que ele ganha entre R$12 mil e R$15 mil, mas pode ser mais. Uma fonte de dentro do Senado afirmou que ele ganha muito para poder bancar pequenas despesas de emergência da família.

Não bastava ao senador manter com o dinheiro público o neto, a mãe do neto, sobrinhas – a parentalha. E aparece um bichinho de estimação de Roseana...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dois netos da ditadura ditam o que ver na TV

Das heranças malditas da ditadura, a mais pervertida delas está nas concessões de rádio e televisão. A partir da segunda metade da década de 1960, os militares passaram a cessar concessões de grupos de empresários nacionalistas e progressistas – a TV Excelsior foi um exemplo, pertencia à família Simonsen, que também perdeu a companhia aérea Panair do Brasil.

A Panair morreu para a Varig tomar conta do mercado aéreo. A Excelsior morreu para a Globo se tornar campeã de audiência. O auge das concessões se deu quando Sarney assumiu a presidência da República. E, com seu ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, distribuíram nada menos que 1.091 concessões de rádio e televisão. Destas, 165 compraram parlamentares; e 257 eles distribuíram na reta final da aprovação da Constituição de 1988.

Não é exagero debitar na conta da dupla de coronéis a programação idiota e fabricante de idiotas que temos neste país, dado o nível de “políticos” que ganharam concessões.

O historiador Wagner Cabral da Costa localiza o momento exato em que Sarney dá o pulo-do-gato:

“Em 1991, Edison Lobão ganha a eleição para o governo e logo faz o acordo para comprar a TV Difusora com sobras de campanha. E o que eles devem ter arrecadado no segundo turno para ganhar as eleições deve ter sido extraordinário. Lobão ‘perde’ a concessão da Globo, fica tranqüilo com o SBT, que era de Sarney. Assim se consuma um troca-troca, pois a TV Mirante do Sarney passa a retransmitir a Rede Globo”

Lobão e Sarney passariam a dominar, com o SBT e a Globo, todas as telinhas do Maranhão. O fato é que, a partir dali, quem decidiria o que o maranhense iria ver todo dia na televisão seriam dois “netinhos da ditadura”: Fernando Sarney, chefe de uma quadrilha segundo a Polícia Federal; e Edison Lobão Filho, o Edinho Trinta, por causa das taxas que cobrava para realizar transações do governo do pai dele para liberar pagamentos, etc. e tal.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

20% - É pouco? É muito? É o Suficiente!



O historiador maranhense Wagner Cabral Costa, incansável pesquisador, que vive percorrendo e vasculhando todo canto do Maranhão atrás de informações, completa o perfil dos negócios que constituíram o principal pé do tripé sobre o qual o clã Sarney ergueria o seu império:
“Na rodada de expansão, no programa Grande Carajás, ainda na ditadura, você tem a implantação da Vale do Rio Doce, com corredor de exportação; a implantação da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará; e a Eletronorte. Ou seja: vão construir uma ponta de organização do setor, o lugar em que você pode trazer as construtoras, que vêm para o Maranhão para tocar as obras. Você tem o esquema das construtoras, das licitações pra conseguir esses contratos, e a contrapartida em termos de financiamento de campanha. Mas também tem a questão da energia, que tem a ver com a Alumar, localizada na ilha de São Luís (o Maranhão recebe a bauxita produzida no rio Trombetas, no Pará, que é transformada na capital maranhense em alumina e alumínio pela Alumar, que faz a exportação). O processo de fabricação da alumina consome muita energia.”
Os processos de transformação de bauxita em alumínio são, talvez, aqueles que mais exigem energia elétrica. Quem tiver poder de negociação dessa energia tem uma impressora de dinheiro nas mãos. Wagner continua:
“Todos os contratos da Alumar, que movimenta 430 milhões de dólares anualmente, foram negociados por agentes de Sarney. São contratos de 20 anos em que a empresa paga 20% a 25% do preço que o consumidor comum paga na cidade. O primeiro contrato venceu há poucos anos e foi renovado por mais 20 anos por gente do Sarney”
Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal, de Belém, que acompanhou passo a passo a construção de Tucuruí, nos fornece os números que permitem calcular o quanto se pode ganhar em comissões e desvios com mega-obras. Como por exemplo, um “ligeiro” erro de orçamento na construção de Tucuruí, maior usina cem por cento brasileira, no Rio Tocantins, Estado do Pará, a 400 km de Belém. O custo das obras, iniciadas em 1981, passou de 2 bilhões e 100 milhões de dólares para mais de 10 bilhões.
Aqui entra na história a Camargo Corrêa, que assinou estradas que deram acesso a Brasília, a ponte Rio-Niterói, as rodovias paulistas Imigrantes e Bandeirantes, a usina nuclear de Angra dos Reis, o gasoduto Brasil-Bolívia, as hidrelétricas de Jupiá, Ilha Solteira e Itaipu, entre inúmeras obras.
Durante a construção de Tucuruí, o patrimônio da Camargo Corrêa dobrou, passou de 500 milhões de dólares para 1 bilhão. Sebastião Camargo, paulista de Jaú, filho de agricultores, foi quem criou a empreiteira com o advogado Sylvio Corrêa. Sebastião Camargo, o China, foi o primeiro brasileiro a figurar na lista de bilionários da Forbes, antes mesmo de Roberto Marinho – o general civil do golpe militar de 1964, do qual emergia como um dos homens mais poderosos deste país em todos os tempos.
Quando foi criado o programa Grande Carajás, com jurisdição sobre Pará e Maranhão, criou-se também um mecanismo de incentivo fiscal que permitiu à Camargo Corrêa, em vez de pagar imposto de renda sobre esse super-lucro, aplicar no projeto Alumar. O truque beneficiou a principal controladora da empresa, a Alcoa, que não precisou botar dinheiro no seu negócio. A Alumar recebeu um contrato de energia semelhante ao da Albrás, ou seja, com subsídio, fazendo jus a um desconto bem camarada. O valor do subsídio, de 2 bilhões de dólares, permitiria comprar uma nova fábrica.
Só aí você vê o que dá 20%..

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Queridinho da Mamãe


(Parte III da série Honoráveis Bandidos)

O pimpolho mais novo, o benjamim, Fernando é o preferido da mamãe. Naqueles dias em que o pai assumia o mais alto posto do parlamento brasileiro, em que cumpria 50 anos de carreira política, se você entrasse no Google e digitasse: “Fernando Sarney”, entenderia imediatamente por que aquele 2 de fevereiro de 2009, não estava “descendo redondo” goela abaixo de José Sarney.

Logo de cara, podíamos ler no Google: “Polícia Federal pedia a prisão preventiva de Fernando Sarney”. Logo abaixo “JB Online – Polícia Federal quer ouvir Fernando Sarney”. Mas vamos clicar na terceira notícia, da Veja Online. O título diz “A família de 125 milhões de reais... e um genro”. O texto reproduz a reportagem da revista Veja impressa, número 1.742, de 13 de março de 2002, cuja manchete de capa diz: A candidata que encolheu

Refere-se ao famoso caso Lunus: um monte de notas de 50, num total de 1 milhão e 350 mil reais, que a Polícia Federal encontrou na sede da empresa do casal Jorge Murad-Roseana Sarney. Roseana, que subia que nem rojão como candidata do extinto PFL, murchou junto com o marido na tentativa de explicar a origem e destinação da dinheirama.

Mas ali, já despontava a estrela de Fernando, o verdadeiro portador da chave que abre e fecha os cofres do clã. O queridinho de Dorna Marly, assim que se formou engenheiro, foi fazer pós graduação em Deliquenciologia trabalhando como assessor do secretário de Transportes Leon Alexander. No governo de quem? Claro, Paulo Maluf (1978-1982).

Entregar aos cuidados do governador paulista o filho Fernando, que seria o cérebro a comandar seu império, mostra o grau de camaradagem que Sarney cultivava com Paulo Maluf. A tal ponto que Maluf, aceitou, sem pestanejar, a indicação de outro grande amigo de Sarney para a função de diretor-administrativo da companhia de águas de São Paulo, a Sabesp: Tauser Quinderê. Que mais tarde daria nome ao auditório da Sabesp, no bairro paulistano de Pinheiros, onde as empresas devem apresentar documentos quando querem participar de alguma – não é piada pronta – licitação.

Tal era a confiança de Sarney em Tauser Quinderê, que o usou como pombo-correio. Por mais de 20 anos, de tempos em tempos Tauser ia pessoalmente à Suíça levar a mala com as “economias” de Sarney. Certo começo de tarde, instalado numa mesa do Bar da Onça, no térreo do edifício Copan, em São Paulo, Helito, bisneto do Barão de Amparo, contra entre talagadas de uísque.

“Na ditadura, não tinha esse problema, na Suíça entra tudo, então ia com a mala. Não tinha negócio de doleiro não, economizava os quatro por cento do doleiro. E, numa dessas viagens, em Genebra, o Tauser teve um ataque fulminante do coração e morreu, no saguão do aeroporto. Atenderam o Tauser e levaram a mala. O Sarney ainda não era o bilionário que é hoje, mas já era um homem rico. Tinha sido governador, era senador, já tinha os diretozinhos e o próprio Fernando Sarney na Eletronorte, o Astrogildo Quental levantando dinheiro pra ele, que estava começando a argamassar a fortuna. E nessa mala tinha muito, era uma mala de viagem lotada de dinheiro, e o Tauser morre com ela. Como Sarney é sabidamente sovina, o Tauser viajava sozinho, de classe econômica, aquelas coisas, sem acompanhante, nada. Pegaram o corpo do Tauser e a grana não apareceu até hoje. Tem mais um rico no mundo.”

Depois de dois belos goles de uísque, a aristocrática figura do ex-sub-chefe da Casa Civil de Maluf retoma o fio da história:

“Ao saber da notícia de que perdeu o fiel escudeiro – e também a mala - o coração de Sarney fraquejou. Impactado por ambas as perdas, deixou Brasília em direção aos cardiologistas de São Paulo. No learjet do dono do cimento Cauê, o mineiro Juventino Dias”

Tempos depois, já um cleptocrata de alto coturno, quando o pai deixava a Presidência, Fernando Sarney teria a oportunidade de pôr em prática o que de melhor havia aprendido com Maluf. Nessa altura, Sarney estava rompido com Maluf, desde a Convenção do PDS em 1984. Aqui cabe, entre parênteses, uma nota para quem gosta de futurologia do passado. Tancredo chegou a procurar Paulo Maluf para sondar se toparia ser vice, para mais facilmente derrotara a ditadura. Maluf não topou. Se topasse, seria ele, Maluf, o presidente em vez de Sarney...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Verdadeiro Trem da Alegria



(Parte II da Série Honoráveis Bandidos)

Roseana deu os primeiros passos na política em pleno Palácio do Planalto, no Gabinete Civil da Presidência da República, aos 32 anos, formada em ciências sociais, um vernizinho de esquerdista, um violão mal tocado, o apelido de Princesinha do Calhau – menção à mansão colonial na praia do Calhau, que ocupa um quarteirão inteiro de 20.000 metros quadrados.

Quem entra na mansão de Sarney imagina tudo, menos uma residência. Sarney chegou a retirar o portão de ferro fundido do cemitério de Alcântara, ilha tombada pelo Patrimônio Histórico, e levar para casa como peça de decoração. Quando o visitou, o ex-presidente socialista de Portugal, Mário Soares, levado à mansão, depois de algum tempo de espera, perguntou a Fernando, filho caçula do senador:

“Agora vamos à casa do presidente Sarney?”

Pensou que estava num museu.

Folha Online, 25 de março de 2009: “Sarney, ACM e Renan criaram 4.000 vagas no Senado”

Trem da alegria – Entre os servidores efetivos, nem todos são concursados. Estes somam cerca de 1.200. Entre 1971 e 1984, os senadores aproveitaram para efetivar servidores por meio de atos administrativos, embora isso fosse vedado pela Constituição. A atual líder do governo no Senado, Roseana Sarney (PMDB –MA), é servidora do Senado graças a um trem da alegria de 1982, assinado pelo então senador Jarbas Passarinho.

O coronel Jarbas Passarinho prestou grandes desserviços à nação, seja como ministro da Educação da ditadura militar quando reprimiu e perseguiu estudantes e professores, seja como incentivador do AI-5. No finalzinho da ditadura, serviu aos apaniguados com o ato que beneficiou a filha dileta de seu amigo José Sarney, antecipando o legítimo Trem da Alegria de 1984, do senador do PDS Moacyr Dalla, que embarcou 780 felizardos na gráfica do Senado e outros 600 nos gabinetes da Casa, entre eles a mesma Roseana, que nem morava em Brasília, mas no Rio.

Pós-Trem da Alegria

Na eleição de 1994, para o governo do Estado do Maranhão, Epitácio Cafeteira perdeu para Roseana, no segundo turno, por um por cento dos votos. Cafeteira havia ganhado o primeiro turno com folga e no segundo foi derrotado por um triz graças, segundo denúncias documentadas, a uma fraude grosseira nas apurações. O que se sabe com certeza é que papai Sarney instalou-se pessoalmente dentro do Tribunal Regional Eleitoral, o TRE, e de lá só saiu quando os votos para a vitória da filha estavam assegurados.

O colunista Márcio Moreira Alves, no jornal O Globo, denunciou que o próprio Cafeteira teria recebido uma fortuna para ficar quieto, aceitar a derrota (apesar de vencer por 70 mil votos) e fazer corpo mole no recurso junto ao Tribunal Superior Eleitoral – perdeu o prazo. Jamais qualquer uma das partes respondeu à gravíssima acusação de Moreira Alves.